quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Obama e a liberdade política dos cristãos

Em muitos aspectos, a vitória de Obama representa mudança. Gostaria de destacar apenas um. Obama deixa claro para a população norte-americana que é possível ser cristão e progressista no campo político.

Este post parte do discurso que Obama fez na organização cristã Soujourners, intitulado
Call to Renewal, em 2006, pouco antes de lançar candidato às primárias do partido Democrata. Neste discurso, o que o então senador afirma é que não há conbtradição entre ser cristão e defender políticas sociais ou econômicas progressistas.

Não estou aqui para resenhar o discurso. Quem quiser poderá lê-lo. Adoto-o como ponto de partida para apontar similaridades ente as posições de Obama e algo que o Magistéria do Igreja Católioca vem afirmando desde o Concílio Vaticano II, e que importantes intelectuais católicos afirmavam antes disso: os cristãos não estão obrigados a ter um único ponto de vista nas questões seculares, mas são livres para defender as políticas que estejam de acordo com os princípios da fé e da moral.

Senão vejamos:
  • O papa Pio XI, na Encíclica Quadragesimo Anno, afirma, sobre as ações sociais dos católicos: "Quanto à autoridade civil, Leão XIII, ultrapassando com audácia os confins impostos pelo liberalismo, ensina impertérrito, que ela não deve limitar-se a tutelar os direitos e a ordem pública, mas antes fazer o possível « para que as leis e instituições sejam tais... , que da própria organização do Estado dimane espontaneamente a prosperidade da nação e dos indivíduos ». Deve sim deixar-se tanto aos particulares como às famílias a justa liberdade de acção, mas contanto que se salve o bem comum e não se faça injúria a ninguém."
  • O ponto 28 da Constituição Dogmática Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) afirma: "O nosso respeito e amor devem estender-se também àqueles que pensam ou actuam diferentemente de nós em matéria social, política ou até religiosa. Aliás, quanto mais intimamente compreendermos, com delicadeza e caridade, a sua maneira de ver, tanto mais fàcilmente poderemos com eles dialogar."
  • Ainda a Gaudium et Spes, no ponto 36, afirma que: "Se por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal autonomia."
  • João Paulo II, na Encíclica Veritatis Splendor (O Esplendor da Verdade), declara: "Retomando as palavras do Sirácida, o Concílio Vaticano II explica assim a «verdadeira liberdade», que, no homem, é «sinal privilegiado da imagem divina»: «Deus quis "deixar o homem entregue à sua própria decisão", para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente chegue à total e beatífica perfeição, aderindo a Ele»."
  • Bento XVI, na Encíclica Spes Salvi (Na Esperança que Fomos Salvos), lembra: "O recto estado das coisas humanas, o bem-estar moral do mundo não pode jamais ser garantido simplesmente mediante as estruturas, por mais válidas que estas sejam. Tais estruturas são não só importantes, mas necessárias; todavia, não podem nem devem impedir a liberdade do homem. Inclusive, as melhores estruturas só funcionam se numa comunidade subsistem convicções que sejam capazes de motivar os homens para uma livre adesão ao ordenamento comunitário"
Isto para ficar só nos pronunciamentos oficiais do Vaticano. Onde quero chegar? Nos últimos anos, a direita cristã norte-americana assumiu a vanguarda do discurso político cristão, tornando imediatamente identificável a relação "ser cristão = ser conservador". Líderes como Jerry Falwell's e Pat Robertson deram a direção sobre o que era politicamente correto no mundo cristão.

Isto teve influência inclusive aqui no Brasil, onde pretensos católicos fervorosos foram ao ataque contra lideranças cristãs e até à CNBB, questionando inclusive sua legitimidade perante o Direito Canônico.

Hoje este pensamento está em crise, graças à Deus. O que este blogueiro humildemente espera é que aqueles de opiniões à esquerda no espectro político possam descobrir que é possível ser cristão ortodoxo e esquerdista, keynesiano, como é possível ser direitista. Tudo isto faz parte do amplo espectro da loiberdade dos filhos de Deus.

Um comentário:

  1. Muito interessante sua reflexão, pautada é claro pela confissão de fé católico romana, diferente da reflexão que proponho no meu blog a partir da confissão luterana, mas chegando a conclusões muito próximas no que diz respeito a liberdade de ação política do cristão. Creio que esta liberdade quem nos dá é Cristo através da graça e na sua Palavra, e as nossas confissões cristãs apenas reinterpretaram esta Palavra de Deus pra situações, por isto nossa concordância. Mas ainda tenho minhas ressalvas com governantes americanos, isto por causa da ideologia do destino manifesto, e o etnocentrismo patriótico, bem como o linguajar evangélico e bíblico excessivo de muitos deles. Já encontrei em algumas reportagens messianismos a respeito de Obama que me fazem pensar que ele não seja diferente de Bush no sentido do etnocentrismo patriótico e da doutrina do destino manifesto.
    Podes consultar meu artigo em www.pietismoluterano.blogspot.com

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