segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Encerrando o Debates e Valores

Turma,
Este blog parece que já cumpriu o seu ciclo. Ele nasceu para trazer ao debate temas polêmicos buscando romper os paradigmas tradicionais - por exemplo, o de que haveria conflito entre fé e ciência. E se acabou no tripé que leva ao fim qualquer blog: a falta de tempo, a falta de assunto e perda de amigos.
Assino embaixo de tudo o que redigi neste espaço nos últimos dois anos. E se as mentes que se fecham em caixas e rótulos não conseguem entender como alguém pode ser tão radical contra o aborto e votar na Dilma, para citar um só exemplo, azar o delas.
Encerro esse blog não porque cansei dele, mas porque quero explorar um outro tema que me interessa muito: desenvolvimento econômico. É sobre isso que tenho trabalhado no último ano, e é o tema para o qual tenho mais a contribuir a partir de agora.
A decisão está se tornando pública, na verdade, depois do que deveria. A campanha eleitoral me fez posicionar-me novamente sobre as coisas que acredito. Mas agora posso fazer a transição em paz.
Aos que participaram deste espaço, muito obrigado.

sábado, 9 de outubro de 2010

Desmistificando as estatísticas do aborto

Quem me acompanha neste blog bissexto sabe que o tema do aborto é de nosso interesse. E quem acompanha o debate eleitoral percebeu que este se tornou o assunto do dia. Como uma das acusações recorrentes de quem é a favor do aborto é que nós, pró-vida, não discutimos o tema sob o ponto de vista da saúde pública, fui levantar direto no Datasus os dados sobre morbidade materna, tão alardeados pelo abortismo.
O resultado é surpreendente. Sim, o aborto é um problema de saúde pública, mas NÃO, NÃO É a principal causa de morte materna no Brasil. De acordo com os dados preliminares de 2008, as principais causas de morte materna durante o parto são:
  • Eclâmpsia: 11,9%
  • Doenças causadas pelo HIV: 5,6%
  • Hipertensão gestacional com proteinúria: 5,4%
  • Hemorragia pós-parto: 4,4%
  • Descolamento prematuro da placenta: 4,4%
  • Aborto não espontâneo: 4,4%
Ou seja, se é uma questão de prioridade, as autoridades sanitárias precisam se voltar para as questões alimentares e cardíacas, responsáveis por duas das principais causas de morbidade materna no país: eclâmpsia e hipertensão gestacional. Nestes casos, fala-se em reduzir o consumo de sódio. Por que, no caso do aborto, fala-se em uma solução que aumenta o problema, ao invés de reduzi-lo?
Quando abrimos os dados específicos sobre mortes causadas por aborto não espontâneo, descobrimos que a maioria das mortes - 31% dos casos - é causada por inflamações ou complicações no trato genital ou outros órgãos pélvicos. Ou seja, é causada pelo aborto realizado em más condições sanitárias, provavelmente em estabelecimentos clandestinos. Nisto os dados estão de acordo com o discurso pró-aborto.
Agora vamos: quando se identifica um problema sanitário em qualquer estabelecimento, inclusive restaurantes, as autoridades sanitárias interditam-no. A solução do problema de saúde pública ligado ao aborto passa por aí. Não é assim que se tratam os estabelecimentos que falsificam remédios?
Não quero fechar o assunto, mas apenas provocar o debate, trazendo elementos para discutir o aborto como questão de saúde pública sim, mas não de forma rasa.

domingo, 3 de outubro de 2010

Por que voto Dilma

Hoje é dia de eleição, e daqui a três horas estarei abrindo a minha seção eleitoral para votar em Dilma para presidente. Por quê?
  1. Porque nos últimos oito anos o Brasil parece ter reencontrado o caminho do desenvolvimento, e isso não é pouco. Não apenas temos crescimento econômico: temos instituições fortes, empresas modernas e que se internacionalizam, e uma sociedade civil atuante. O governo do torneiro mecânico não criou isso, mas colaborou para que tudo isso acontecesse
  2. Porque ainda há muito por fazer, principalmente no campo da educação e da inovação tecnológica. Não dá para falar em crescimento amigo do meio ambiente sem falar em inovação tecnológica. E hoje os que melhor compreendem a engenharia institucional da inovação estão com Dilma, não com Marina ou Serra
  3. Porque lideranças importantes do PT se manifestaram de forma assertiva e adotaram um compromisso público em defesa da vida. Dilma se comprometeu inclusive a não chamar um plebiscito que mude a legislação sobre o aborto. O PT, além disso, é o único partido que regulamenta a cláusula de consciência em seu estatuto, enquanto todos adotam programas anti-vida em maior ou menor grau.
  4. Porque não há conflito em ser cristão e ser de esquerda - como não o há em ser cristão e ser de direita. E quem diz que há está sendo mal intencionado.
Quem quiser ouvir mais argumentos, recomendo a leitura deste post do NPTO. Vale a pena.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tolerância

Diz o senso comum que a intolerância é resultado da religião. E não adianta dizer que esta é uma generalização barata. Para um certo grupo de pessoas, pretensamente esclarecidas e independentes, toda religião é intolerante, e por isso não merece tolerância.

As pessoas que afirmam a intolerância como resultado inerente à existência da religião se apresentam como esclarecidas. Não acreditam em Deus, mas nas estatísticas. Contudo, apresente a alguém como este dados apontando que a proporção de gente intolerante entre os religiosos não é maior nem menor que nos não religiosos, e você verá esta estatística ser solenemente ignorada.

Eles apelam à História. Dizem que a religião sempre fomentou gente intolerante. E aí você pergunta de onde, afinal, surgiram pessoas como Francisco de Assis, Dalai Lama, Maimônides. De nada adiantará. Eles dirão que essas pessoas são exceção, e nem eram tão religiosas assim.

Eles afirmam que a religião é contra as ciências. Que todo religioso é contra o que existe de mais avançado em ciências, como a genética. E aí você pergunta porque então as bases da genética foram dadas por um monge beneditino, Gregor Mendel, e ouvirá uma assertiva genérica de que a religião é contra a ciência e sempre foi assim.

Eles dizem que defendem a democracia e o direito de livre associação, e toda religião é contra isso. E aí você lembra que a religião também tem o direito de organizar de forma associativa e organizar suas reuniões públicas. E eles dizem que não. Religião não tem direito às mesmas conquistas democráticas do restante da sociedade.

Eles dizem que a religião quer impor o seu ponto de vista sobre a sociedade, ao propor leis contra o aborto ou outros temas morais que eles consideram inadequados. E aí você argumenta que feministas, antirracistas, marxistas também tentam aprovar leis adequadas às suas opiniões. E eles dizem que é diferente, os outros podem, religião não pode.

Eles dizem que os religiosos odeiam crianças, são pedófilos. E aí você mostra que a religião defende a criança desde o nascimento, que os serviços de proteção à infância surgiram no meio de instituições religiosas. Eles dizem que é um absurdo, religião odeia crianças.

Poderia fazer esta lista crescer ao infinito. Mas basta isto para nos fazer pensar: afinal, quem é o intolerante por aqui?