Aspectos jurídicos
- Disse isso no blog do Pedro Dória - e por isso recebi muitos elogios, de "comedor de hóstia" para baixo: em caso de aborto, a excomunhão é latae sententiae. Isto é, ela acontece independentemente de ter sido ou não declarada. O cânon 1398 do Código de Direito Canônico assim o estabelece para o caso de aborto. Como a menina, por ser menor de 16 anos, não pode ser excomungada, a pena cai sobre os responsáveis, ou seja, a mãe, a equipe médica, o advogado da família e o juiz.
- Uma pena latae sententiae pode ou não ser declarada. Se declarada, acrescenta punições públicas. Isto geralmente acontece quando o juiz, no caso o bispo, avalia que há grave dano à Igreja ou à moralidade.
- Por opção pastoral, a pena latae sententiae pode não ser declarada, ou que facilita para o fiel regularizar a sua situação. Uma excomunhão declarada só pode ser remida pelo bispo ou pela Sé Apóstolica, dependendo de quem declarou a excomunhão. Uma excomunhão não declarada pode ser remida pelo confessor, durante a confissão.
- Ao optar por declarar a excomunhão, o arcebispo de Olinda e Recife tomou uma decisão juridicamente adequada. Contudo, do ponto de vista pastoral, é ambigua. A declaração da excomunhão poderia ser substituída por uma conversa particular com a família da criança.
- Embora o aborto seja expressamente punido com a excomunhão, não há diuferença de peso entre ele e o abuso praticado pelo padrasto. Ambos são pecados graves. Tratam-se de matérias graves (direito a vida em um, castidade em outro), praticadas com conhecimento de que se tratavam de pecados, e com firme decisão da vontade.
- Pelo contrário, o fato de a criança ter sido abusada atenua a culpa do aborto. Disse isso no blog do Pedro Dória, mas ninguém entendeu.
- Para efeitos canônicos, tanto o padrasto quanto os responsáveis pelo aborto estão impedidos de receber os sacramentos. A diferença é que o padrastro, se estiver arrependido, pode procurar o confessor, enquanto os outros dependem de uma remissão da Arquidiocese de Olinda e Recife ou da Santa Sé.
- Seguir pesquisa de opinião pública é tarefa de departamento de marketing ou de partido político. O papel de Igreja não é aceitar esta ou aquela prática só porque se tornou costume, mas dar a diretriz moral.
- Isto se faz por meio da direção espiritual particular e pelo posicionamento público diante de temas de elevada gravidade moral. Este é claramente um caso que exige um posicionamento público.
- Este tem sido o papel da Igreja em todos os tempos. Por isso mesmo, ela se posicionou contra o incesto na Antiguidade e os duelos na Idade Média, ambas práticas aceitas pelo costume, mas que feriam a moralidade. É o mesmo caso do aborto hoje.
- Uma sociedade na qual um padrasto seja incapaz de se conter perante uma enteada de nove anos é uma sociedade com seus valores em crise. Ela precisa urgentemente reencontrar o próprio caminho.
- A família tem sido atacada e desmontada sistematicamente pela modernidade. Cada vez mais, os pais se sentem menos responsáveis pelos filhos, os maridos pelas esposas, as esposas pelos maridos. O trabalho, o lazer e outras coisas estão assumindo o espaço prioritário da família.
- Além disso, a liberação sexual, ao invés de trazer a liberdade prometida por Wilhem Reich e Herbert Marcuse, trouxeram mais oportunidades de queda para os fracos. Hoje, uma pessoa com dificuldades de se conter perante estímulos sexuais encontra mais oportunidades de perder o controle que no passado recente.
- É inaceitável que taras e desvios sexuais sejam tratadas como uma questão de livre opção, e não como fraquezas humanas, que exigem nossa atenção e cuidado.
Meu caro Paulo,
ResponderExcluirÀ parte as questões que competem apenas à Igreja Católica e seus seguidores, a misericórida e a compaixão deveriam ser praticadas por todos. E nesse caso, a junta médica expressou esses valores, ao contrário do Arcebispo.
E se, de uma forma ou de outra, as ações do Arcebispo encontram respaldo no direito canônico, isso serve apenas para reforçar minha aversão a instituições religiosas como a ICAR.
Respeitosamente,
Darwinista.