sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tolerância

Diz o senso comum que a intolerância é resultado da religião. E não adianta dizer que esta é uma generalização barata. Para um certo grupo de pessoas, pretensamente esclarecidas e independentes, toda religião é intolerante, e por isso não merece tolerância.

As pessoas que afirmam a intolerância como resultado inerente à existência da religião se apresentam como esclarecidas. Não acreditam em Deus, mas nas estatísticas. Contudo, apresente a alguém como este dados apontando que a proporção de gente intolerante entre os religiosos não é maior nem menor que nos não religiosos, e você verá esta estatística ser solenemente ignorada.

Eles apelam à História. Dizem que a religião sempre fomentou gente intolerante. E aí você pergunta de onde, afinal, surgiram pessoas como Francisco de Assis, Dalai Lama, Maimônides. De nada adiantará. Eles dirão que essas pessoas são exceção, e nem eram tão religiosas assim.

Eles afirmam que a religião é contra as ciências. Que todo religioso é contra o que existe de mais avançado em ciências, como a genética. E aí você pergunta porque então as bases da genética foram dadas por um monge beneditino, Gregor Mendel, e ouvirá uma assertiva genérica de que a religião é contra a ciência e sempre foi assim.

Eles dizem que defendem a democracia e o direito de livre associação, e toda religião é contra isso. E aí você lembra que a religião também tem o direito de organizar de forma associativa e organizar suas reuniões públicas. E eles dizem que não. Religião não tem direito às mesmas conquistas democráticas do restante da sociedade.

Eles dizem que a religião quer impor o seu ponto de vista sobre a sociedade, ao propor leis contra o aborto ou outros temas morais que eles consideram inadequados. E aí você argumenta que feministas, antirracistas, marxistas também tentam aprovar leis adequadas às suas opiniões. E eles dizem que é diferente, os outros podem, religião não pode.

Eles dizem que os religiosos odeiam crianças, são pedófilos. E aí você mostra que a religião defende a criança desde o nascimento, que os serviços de proteção à infância surgiram no meio de instituições religiosas. Eles dizem que é um absurdo, religião odeia crianças.

Poderia fazer esta lista crescer ao infinito. Mas basta isto para nos fazer pensar: afinal, quem é o intolerante por aqui?

2 comentários:

  1. Acho muito difícil pesarmos os benefícios e os malefícios que a religião trouxe para o mundo. Acredito até que, como resultado final, a religião tenha trazido mais benefícios realmente. Só que o custo dos malefícios que causou, como a inquisição, como guerras, e hoje, olhando para o lado brasileiro da coisa, uma distorção do que supostamente seja a palavra de Deus pelas religiões evangélicas, o custo foi e pode continuar sendo muito alto. Não nego os benefícios sociais que a religião traz hoje: ela cria senso de comunidade, ela leva palavras de conforto, ela aponta caminhos para salvar pessoas desorientadas e que não têm dinheiro para pagar um psicólogo. Mas têm dois problemas: religião tem uma alta capacidade manipulativa e os líderes religiosos das comunidades estão cada vez mais irresponsáveis com esse poder. Não diria que os religiosos estão intolerantes, mas diria sim que os religiosos estão cada vez mais fanáticos.

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  2. Edu, interessante ver como os críticos da religião repetem os mesmos argumentos há dois mil anos. Mudam as ideologias do futuro, e todas se prendem ao passado. Cristãos sempre foram acusados de fanáticos, seja no Império Romano, seja na Revolução Francesa, seja agora.

    A dificuldade de compreensão existe por que as pessoas resistem em fazer a experiência. Faça, e verá as coisas de outro modo

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