quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dificuldades do debate pela vida (1)

Este post é o primeiro de uma série que pretende debater a forma como o movimento em defesa da vida faz o debate sobre temas importantes como aborto, combate a AIDS e planejamento familiar. O objetivo é apontar as dificuldades do lado de cá (pela vida) no debate com o lado de lá.

Dito isto, vamos ao primeiro ponto. Vejamos como duas instituições de lobby, uma pró-vida e outra contrária, se apresentam ao distinto público em seus sites da internet:

A Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família - PROVIDAFAMÍLIA é uma organização legalmente constituída em assembléia geral de 19 de março de 1993. Tem seu estatuto registrado no Cartório do 1° Ofício de Registro Civil de Títulos e Documentos e Pessoas Jurídicas sob o n° 2.671, no Livro A-4, Protocolado sob o n° 13.904, em 5 de julho de 1993, em Brasília, DF.

Finalidades:
  1. defesa da vida humana desde a concepção até a morte natural, sem exceções;
  2. defesa dos valores morais e éticos da família,.

A BEMFAM, BEM-ESTAR FAMILIAR NO BRASIL, é uma organização não-governamental brasileira, de ação social, sem fins lucrativos, fundada em 1965.  Focada nas necessidades da população, realiza ações voltadas para o desenvolvimento social local.  Sua base está na defesa dos direitos humanos, na promoção da educação e da assintência em saúde sexual e reprodutiva (SSR).  A BEMFAM desenvolve parcerias, com os setores público e privado, que visam contribuir para implementação de políticas sociais, em especial aquelas voltadas a saúde da mulher.

Pois é. Enquanto uma associação pró-vida se apresenta como uma instituição de campanha, a outra se coloca como uma parceira da sociedade na execução de políticas de planejamento familiar. Na hora "h", quem está ao lado da mãe?

O movimento em defesa da vida tem o que apresentar em termos de políticas sociais? Claro. Portanto, deveria fazê-lo. Qual o problema de se firmar parcerias com prefeituras, por exemplo, para implantação do programa ABC no combate a AIDS? Nenhum.

Para quem não conhece, o programa ABC é o responsável pela queda na incidência de AIDS em Uganda, país da África que apresenta os melhores resultados neste aspecto. Se baseia em três pilares, representados pelas iniciais:
  • A de Abstinence (Abstinência), ou seja, orientação aos jovens solteiros para evitar comportamentos promíscuos
  • B de Be Faithful (seja fiel), ou seja, orientação a casais para evitarem a infidelidade e frequência a prostíbulos
  • C de Condons (camisinhas), ou seja, distribuição de preservativos para grupos de risco
Implante-se um programa como este em uma cidade como Pouso Alegre ou Varginha, cidades onde o prefeito é do mesmo partido do deputado Odair Cunha, um dos autores do Estatuto do Nascituro. No começo com certeza haverá críticas. Contudo, os resultados mostrarão que a opção foi correta, e o modelo poderá ser implantado em outros locais.

A adoção de políticas sociais alinhadas às propostas do movimento em defesa da vida ajudará muito mais a ganhar a opinião pública que a mera disputa política no Congresso Nacional.

Obs.: este blogueiro não consultou nenhuma das instituições citadas acima, apenas acessou o site delas. Por isso, está disponível para corrigir a informação, caso seja necessário.

10 comentários:

  1. Finalmente achei o tal do teu cafofo.

    1 - interessante começar por definir o que é ética e o que é moral.

    2 - tirando a abstinência, que é coisa pra padres - e mesmo estes parecem que não obedecem muito - as outras medidas são interessantes: fidelidade e camisinha.

    parabéns pelo blog

    abraços

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  2. Pois é, Pax, mas você há de convir que estimular a abstinência traz mais resultados neste sentido que fazer propaganda de casalzinho dando amasso patrocinada pelo Ministério da Saúde.

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  3. Não sei, Paulo R Silva,

    Juventude tem uma linguagem específica. Não adianta, os hormônios falam alto nessa idade. Querer que todos pratiquem a abstinência é uma irrealidade.

    Não achas?

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  4. Paulo,
    Antes de mais nada, parabéns pela iniciativa.

    Concordo com o Pax, a definição de ética e moral numa discussão dessas é fundamental. Em que ética e em que moral se baseia a Associação Nacional?

    Outra coisa que me incomoda: sem exceções? Posturas nesse nível de radicalidade certamente mais afugentam que atraem simpatizantes. A vida é algo tão complexo e, acima de tudo, tão pessoal, que incomoda pensar que alguém pode querer interferir nos rumos que dou a minha própria vida.

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  5. Paulo, desculpe, estimular a abstinência e acreditar que vai funcionar é desconhecer completamente a natureza humana.

    Parafraseando o Pax, nem mesmo os padres (ou pelo menos muitos deles) levam isso adiante. Sexo é tão natural quanto qualquer outra necessidade fisiológica como comer, beber, urinar, etc.

    Vale mais a pena encarar o problema de frente e falar a mesma lingua dos jovens do que achar que alguém em plena descoberta da própria existência corporal vai deixar de usufruí-la.

    E pelamordideus, paremos de tratar sexo como tabu. Estamos no século XXI.

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  6. Pax e Monsores, obrigado pela contribuição. Acho que não se trata de tratar o sexo como tabu, ou obrigar os jovens à abstinência, mas de estimular e orientar neste sentido. Acredito que os jovens poderão ter uma atitude mais madura em relação ao sexo se estimulados a abstinência que se estimulados à promiscuidade. Este estimulo precisa falar a linguagem do jovem, mas não necessariamente a linguagem jovem é a linguagem do sexo. Já ouviram falar do PHN?

    Claro que acidentes acontecem, e os hormônios fazem uma pressão forte sobre o comportamento, mas não precisamos ser governados pelos hormônios.

    Dawinista, a Assoxciação Pró Vida é cristã, não sei de qual denominação. Quanto a defender a vida sem exceções, eles querem dizer que a defendem do assassinato. Ou seja, eles são contra o aborto, a pena de morte, a eutanásia e toda tentativa de homicídio. Quanto à forma como você leva a sua vida, é um problema seu.

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  7. Quanto à forma como você leva a sua vida, é um problema seu.

    De fato Paulo, é um problema meu. Desde que, é claro, isso não afete negativamente a vida de outras pessoas.

    Acho que não fui claro no meu comentário, então explico com um exemplo: uma pessoa que encontra-se em estado terminal pretende interromper o sofrimento apelando pra eutanásia. Ela está consciente e goza das suas faculdades mentais. Suponha que o ato seja juridicamente legal. Eu não acho correto que uma entidade, seja ela parte dos três poderes ou da sociedade, tente impedir que a decisão da pessoa se concretize.

    Não sei se é o caso da citada Associação. Apenas refleti a respeito do incômodo com a expressão "sem exceções".

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  8. Então, Darwinista, aí estamos diante de um problema ético complexo. Mesmo que a lei autorize uma pessoa a pedir a eutanásia, eticamente não se pode proibir alguém de tentar salvar a sua vida, mesmo contra a vontade. É isso que se faz com os suicidas, certo?

    É diferente da ortotanásia, quando se interrompe um tratamento que causa mais desconforto que benefícios ao paciente. Neste caso, o objetivo é melhorar a vida do paciente, mesmo que não seja possível salvá-lo.

    A Associação Pró Vida, contudo, não chegaria a tentar impedi-lo de se matar. Seu objetivo é fazer campanhas em favor de suas teses e lobby, ou seja, munir de informação a bancada de deputados pró-vida no Congresso.

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  9. Paulo,

    Defina promiscuidade. Transar sem proteção? Transar com animais? Por favor, defina-a para mim, porque eu realmente não sei. Promiscuidade pra mim pode ser completamente diferente do que para você.

    Em relação ao assunto que o Darw abordou, concordo com ele. Ninguém pode me impedir de tirar minha própria vida. E eu não concordo que a eutanásia só é "legítima" quando praticada por pessoas enfermas a beira da morte, para aliviar qualquer sofrimento.

    Mais uma vez, defina sofrimento. Eu tenho enxaqueca constante, a do nivel mais alto. Já fiz todo tipo de tratamento que você pode imaginar. Resta benzedeira e cirurgia espírita. O que, obviamente não irei fazer. Vou dar um tiro na cabeça? Não. Mas, como diz o House, I live in pain! E analgésicos comuns, depois de 13 anos de dor já não funcionam mais. Mas onde quero chegar é: eu suporto uma dor chata, constante e na maioria das vezes, até consigo esquecê-la. Mas suponhamos que algo de realmente ruim acontecesse na minha vida. Não saberia exemplificar, mas algo que fizesse com que tudo perdesse o sentido e nada mais importasse. Por que raios não poderia cometer suicidio? Não é uma eutanásia também? É a minha fuckin' miserable life. Tenho que ter direito sobre ela.

    Enfim, é isso.
    Bom papo, folks.

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  10. Monsores, a resposta é com uma outra pergunta: você manda na sua sexualidade, ou sua sexualidade manda em você? É o que nos torna humanos, o fato de que somos senhores dos nossos atos. Se a juventude não aprende isso quando jovem, aprenderá quando?

    Na segunda questão, é bem simples: se a sua dor de cabeça é aliviada por um analgésico, não há motivo para interrompê-lo. O analgésico não te cura, mas te traz conforto. Agora, se para curar um câncer que já se espalhou por grande parte do corpo é necessário realizar uma quimioterapia que trará todos os seus efeitos colaterais, mas não resolverá efetivamente o problema, o doente pode se recusar ao tratamento.

    Eu acho interessante ter que definir coisas que são parte do nosso dia a dia. Quem definir sofrimento? Pergunte para quem sofre.

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